Duo Ouro Negro

 

 

Ouro Negro significava no Norte de Angola tudo que o é excecional, muito valioso, quer seja o café, o petróleo ou mesmo um jogador de futebol.  O projeto "Ouro Negro" sob a forma de um duo musical foi criado em 1956 e interpretava nos primeiros tempos apenas temas do folclore angolano de várias etnias e línguas. Era formado pelos artistas Raúl Indipwo and Milo MacMahon, tendo em certa altura integrado um terceiro elemento, José Alves Monteiro.

O Duo Ouro Negro foi um fenómeno de internacionalização da música africana. Cantadas em diversas línguas africanas e em português (mas também em francês, em espanhol ou em italiano, e com batidas tradicionais africanas mas também de blues, soul e de música latina as suas canções são o resultado de uma miscigenação cultural e foram uma lufada de ar fresco na música mundial. Adaptaram e renovaram o folclore angolano para públicos urbanos de todo o mundo e foram aplaudidos entusiasticamente em todos os países onde atuaram.

Dos seus primeiros sucessos destaco "Muxima"e "Kurikutela" gravados em 1959 em Portugal continental numa altura em que o Duo Ouro Negro já atuava com bastante sucesso no Cinema Roma e no Casino Estoril.

 
“Toda a gente leva pressa
para chegar à sua terra
que estão os parentes à espera"

 in Kurikutela

 Em 1962 o Duo Ouro Negro editou um EP onde incluiu a sua versão do tema "Mãe Preta", um original brasileiro que data de 1930.. A canção que nos traz imagens fortes de cenas de escravatura foi posteriormente proibida pela censura. Cantaram uma versão de uma canção dos Beatles e  outra de uma canção de Charles Aznavour.

Em 1965 lançam o disco "La Kwela" com temas originais em francês que dá a conhecer o estilo com o mesmo nome. Kwela é uma música de rua própria dos países do  Sul de África e que apresenta um estilo tipo jazz e uma batida baseada nos blues e no folk norte-americano. Raúl e Milo criaram um coreografia que cruzava movimentos de danças rituais africanas com o twist e outros estilos da época que dançavam ao cantar estes temas. Foi tal o sucesso da kuela que se tornou o ritmo de verão em 1965 tanto em Portugal como em França e até noutros países europeus.

Atuações em diversos países da Europa, especialmente França, Espanha, Suíça e países nórdicos dão grande exposição ao grupo e espalham os sons africanos pelo "Velho Continente".

Em 1966 atuaram no Mónaco, por ocasião das comemorações do IV Centenário do Principado. No mesmo ano participaram na comemoração do 20º aniversário da UNICEF um espetáculo televisivo do Danny Kaye Show transmitido de Paris e visto em todo o mundo por cerca de 200 milhões de pessoas. Fizeram espetáculos em diversas televisões europeias.

Viajam até ao Brasil e atuam no Sala Cecília Meireles e no Canecão no Rio de Janeiro em 1967. Participaram no Ed Sullivan Show, um programa da televisão americana. Em maio de 1967 participam ao lado de Amália Rodrigues, Simone de Oliveira e Carlos Paredes, entre outros no espetáculo "Grand Gala du Music-Hall Portugais" que teve lugar no Olympia de Paris.

Em 1968 Raul e Milo produzem uma opereta africana denominada "A Rua d'Iliza" para a Rádio e Televisão Portuguesa. Este programa foi selecionado para representar a RTP no Festival de Milão.

Fizeram espetáculos nas grandes salas europeias destacando-se o Olímpia de Paris onde atuaram em diversas temporadas com grande sucesso. Em Londres atuaram para a rainha de Inglaterra no espetáculo anual Royal Variety Performance realizado no Royal Albert Hall. Em 1970 levaram a música africana para o Japão ao estarem presentes, com grande sucesso, na Exposição Universal em Osaca na ocasião da comemoração do dia de Portugal.

A partir de 1968, o Ouro Negro conquistou o Canadá. Nos EUA, em Chicago assinam um contrato com a discográfica Colombia Arts Management. Atuam no hotel Waldorf Astória de Nova Iorque com grande sucesso. Cantam no Lincoln Centre, no Carnegie Hall e no Hollywood Bowl. Fazem uma tourneé de 58 concertos em 58 cidades.

 Estiveram de novo nos Estados Unidos fazendo 43 espetáculos em universidades e teatros de 37 estados. Cantaram no Canadá, na Argentina e noutros países da América Latina. Foram à Rússia e cantaram no teatro Bolshoi.

O álbum "Blackground" lançado em 1971 foi um marco na música mundial. A ideia do álbum surgiu durante uma digressão ao Estados Unidos em que o Raúl e o Milo tiveram contacto com a luta da população negra pelos seus direitos civis.

A cultura africana e as suas lendas foram o cerne deste álbum mais vanguardista que foi uma marco na carreira dos Ouro Negro. Em "Blackground" é a mitologia negra que conta a lenda da Deusa Iemanjá, a mãe dos rios, o aparecimento dos homens e da tribo universal. O álbum engloba um conjunto de canções que representa o nascimento e propagação da canção africana, do Cuanza ao Tejo, a bordo de canoas e no porão de navios. 


"Don’t forget your background/ 

Don’t forget your blackground”

 

"Não te esqueças das tuas origens/

Não te esqueças das tuas origens negras/do teu campo negro"

 

Do álbum de 1972 "O Espectáculo É Ouro Negro" destaco a canção  "Jikele Mauenhi". 

 

Para além de Portugal foram editados discos dos Ouro Negro nos seguintes países: França, África do Sul, Brasil, Estados Unidos da América, Angola, Moçambique, Japão, Israel, Alemanha, Argentina, Espanha e Canadá. Pode dizer-se sem exagero que os discos deste duo deram a volta ao mundo. E que este duo de amigos de Angola cantaram o mundo inteiro e estiveram em todos os continentes do mundo.

Gravam em 1981 o 2º Blackground  com novos músicos, de onde resulta um espectáculo memorável que esteve em cena no Teatro da Trindade com o título "Iemanjá". 

 

              Amanhã, do single de 1971


Após a morte precoce do Milo em 1985, Raúl tomou o nome do grupo e foi como Raúl Ouro Negro e vestido de branco que homenageou o amigo e companheiro de vida. O single "Meus Olhos Ficaram Mar" e álbum "Os Olhos de Marília" foram lançados em 1985 e 1987 respetivamente por Raúl Ouro Negro.


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Fontes

 

 https://www.docdroid.net/Uj8SnBr/duo-ouro-negro-1959-2006-pdf#page=17

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/duo-ouro-negro-2/

https://festivaiscancao.wordpress.com/2020/11/17/em-homenagem-a-duo-ouro-negro-1-biografia-resumida/ 

http://ocovildovinil.pt/blog/DUO_OURO_NEGRO-TRINTA_ANOS_DE_SAUDADE/

http://psimg.jstor.org/fsi/img/pdf/t0/10.5555/al.sff.document.moorman0001_final.pdf


 

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