António Aleixo


Estátua de António Aleixo em Loulé 


António Aleixo foi um poeta improvisador de quadras, conhecido como o "poeta popular". Tinha um talento raro para inventar de forma espontânea quadras apropriadas a cada momento e com palavras simples descrevia com ironia a sociedade que conhecia muito bem. 

Nasceu em Vila Real de Santo António em 1899 tendo falecido com apenas 50 anos. Nasceu numa família humilde e nunca andou na escola. Foi o seu pai que o ensinou a ler e escrevia com muitos erros ortográficos.

Desde criança que demonstrou uma capacidade invulgar para inventar quadras no momento tendo o seu talento sido revelado quando tinha à volta de 10 anos e andava com as outras crianças a cantar as "Janeiras" de porta em porta.

Aos 20 anos foi para a tropa tendo sido corneteiro. Foi guarda da PSP mas não tinha jeito para essas funções. Emigrou para França onde foi servente de pedreiro mas como era fisicamente muito frágil cedo regressou ao seu Algarve onde começou a vender lotaria que apregoava com as suas quadras. Instalou-se em Loulé onde teve ainda mais profissões que descreve numa das suas quadras:

Fui polícia, fui soldado                                             
estive fora da nação                                        
vendo jogo, guardo gado
só me falta ser ladrão.

Foi pobre e passou fome. Sofreu de dores físicas toda a sua vida. Contava na sua poesia o que via e sentia com transparência e correção.

Ao ver um garotito esfarrapado
Brincando numa rua da cidade,
Senti a nostalgia do passado,
Pensando que já fui daquela idade. 

Que feliz eu era então e que alegria...
Que loucura a brincar, santo delírio!...
Embora fosse mártir, não sabia
Que o mundo me criava p'ra o martírio!

  

Tinha uma personalidade rica e era consciente da realidade social. Dizia-se possuidor de uma "amarga filosofia, aprendida na escola impiedosa da vida". 

Sou humilde, sou modesto;
mas, entre gente ilustrada,
talvez me digam que não presto,
porque não presto p`ra nada.

Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.

 

Denunciou as hipocrisias da época e as desigualdades entre os ricos e os pobres com palavras simples mas contundentes e repletas de crítica social.

 

O povo do meu país
para esquecer que não come
lê a imprensa que diz
que em Portugal não há fome.

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Sei que pareço um ladrão
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.

 

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Não Dês Esmola a Santinhos

 
MOTE

Não dês esmola a santinhos,
Se queres ser bom cidadão;
Dá antes aos pobrezinhos
Uma fatia de pão.

GLOSAS

Não dês, porque a padralhada
Pega nas tuas esmolinhas
E compra frangos e galinhas
Para comer de tomatada;
E os santos não provam nada,
Nem o cheiro, coitadinhos...
Os padres bebem bons vinhos
Por taças finas, bonitas...
Se elas são p'ra parasitas,
Não dês esmola a santinhos.

Missas não mandes dizer,
Nem lhes faças mais promessas
E nem mandes armar essas
Se um dia alguém te morrer.
Não dês nada que fazer
Ao padre e ao sacristão,
A ver para onde eles vão...
Trabalhar, não, com certeza.
Dá sempre esmola à pobreza
Se queres ser bom cidadão.

Tu não vês que aquela gente
Chega até a fingir que chora,
Afirmando o que ignora,
Assim descaradamente!?...
Arranjam voz comovente
Para jludir os parvinhos
E fazem-se muito mansinhos,
Que é o seu modo de mamar;
Portanto, o que lhe hás-de dar,
Dá antes aos pobrezinhos.

Lembra-te o que, à sexta-feira,
O sacristão — o mariola! —
Diz, quando pede a esmola:
«Isto é p'rà ajuda da cera»...
Já poucos caem na asneira,
Mas em tempos que lá vão,
Juntavam grande porção
De dinheiro, em prata e cobre,
E não davam a um pobre
Uma fatia de pão.

António Aleixo in "Este Livro que Vos Deixo”
 


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Fontes:


  •  https://arquivos.rtp.pt/conteudos/antonio-aleixo-artesao-da-poesia/
  •  https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Aleixo
  •  https://www.luso-poemas.net/modules/news/pages.php?uid=6487

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