João Villaret

João Villaret foi um ator, encenador e declamador adorado pelo público português. Fez a sua carreira no teatro e no cinema mas ficou realmente conhecido quando nos 50 teve um programa de televisão semanal, em nome próprio, em que declamava poemas de autores portugueses. A sua forma de dizer as palavras era verdadeiramente notável e teatral tendo João Villaret, acompanhado pelo irmão Carlos ao piano, conseguido criar nesse programa grandes e memoráveis momentos de televisão. Numa peça de teatro de revista apresentou o fado falado. "Se o fado se canta e chora, também se pode falar", dizia ele nessa peça.

Faleceu em 1961 com apenas 47 anos mas ficou na memória coletiva dos portugueses através das declamações que fez de alguns poemas. Deixo aqui um excerto de um dos seus programas em que apresenta uma das suas mais conhecidas recitações, "A Procissão" de António Lopes Ribeiro.


 

Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.

Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!

Ai, que bonitos que vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!

Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Já passou a procissão.

 

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