carta de Pero Vaz de Caminha

O contacto entre duas culturas

ou como

o Homem Branco viu o Pele Vermelha

Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, escreveu ao rei D. Manuel I, uma carta para lhe comunicar o descobrimento das novas terras. É datada de 1 de Maio de 1500 e foi levada a Lisboa por Gaspar de Lemos, comandante do navio de mantimentos da frota. Nesta carta, Pero Vaz de Caminha registou as suas impressões sobre a chegada às terras que viriam a ser chamadas mais tarde de Brasil.

Este documento fantástico foi inscrito em 2005 no Programa Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, UNESCO.

Para a consultar na íntegra, consultar

A carta de Pero Vaz de Caminha 


A seguir mostro um extracto da referida carta.

(...)
Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma. Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas.  
 
Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora. 
 
Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora. Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo(...)
 

 

Comentários